sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Assim

 Sempre que entro em casa, olhando em volta sem saber onde me quero deixar tombar, de tão estafado que me adivinho, continuo a pensar que era bom ter-te ali, sem me importar em ser o tal, sem me incomodar ser “o outro”. Só ter-te ali, para falar, para sentir os pêlos do braço a encrespar constantemente com o roçar dos nossos braços, agora menos inesperadamente.
 Por vezes, apreciaria de ser amoral, desconsiderar tudo e todos, descurar ensinamentos e deixar-me conduzir apenas pelo instinto zoonte que possuo. Se conseguisse ser assim, garanto-me grogue do cansaço, seria muito menos intrincada a minha vida, muito mais lépida e seria eu muito mais feliz, mesmo fazendo outro muito miserável.
 Finalizo preferindo a cama, sentindo o frio do tecido que nunca amornaste, imaginando o peito onde te aconchegas, que não é e nunca será o meu. Não é porque não pretendo nem tu podes, não vai ser pois nunca descerraria a mente a quem atraiçoasse por mim.
 Tenho-me obstado de te repudiar, o que faz todo o sentido para mim, apesar de repudiar os teus semelhantes. Diz quem sabe que a linha que desune o ódio da paixão é muito delgada, não me quero aventurar a emaranhar-me nela.
 Sinto-me nauseado por me apeteceres se sei do que és capaz.

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